Por Jota Dangelo

O Carnaval de 2020 começou mal, muito mal. Três Escolas de Samba decidiram não participar dos desfiles: Metralhas, São Geraldo e Bate-Paus. Com quais argumentos se afastam dos desfiles?

Um deles: a verba do Poder Público saiu muito tarde. O argumento não procede. Sem dúvida, há anos que estamos,  nós, os carnavalescos, implorando à Prefeitura para liberar a grana do carnaval em parcelas mensais a partir de agosto, ou setembro. Facilita para a preparação das Escolas e para o Poder Público que não tem que despender de quantia exorbitante de recursos em janeiro, depois de ter desfalcado seu orçamento com o pagamento do salário e 13º dos servidores. Mas, do mesmo jeito, as Escolas de Samba nunca deixaram de desfilar porque as verbas foram liberadas em janeiro. Para dar um exemplo, em 2017 a verba saiu com 28 dias de antecedência do Carnaval; em 2018, com igualmente 28 dias; e em 2019, o Carnaval foi de 02 de março a 05 de março e a verba foi liberada em 11 de fevereiro, com antecedência de apenas 19 dias! Nenhuma Escola de Samba desistiu do desfile. E isto ocorreu sempre, desde 1965, quando o desfile e a disputa carnavalesca foram oficializadas em São João del-Rei. Para espanto dos de agora, nos anos iniciais da criação  das verbas oficiais, uma das parcelas era paga depois do carnaval! Outros tempos…

Outro argumento colocado pela São Geraldo e pelo Bate-Paus, num programa da Rádio São João no dia 10 do corrente, fazia referência aos déficits de ambas as agremiações. De onde veio o déficit? Do carnaval de 2019, é claro. O que houve? Simples: as Escolas gastaram mais do que tinham em caixa. Esta dívida não pode ser paga pelo Poder Público, evidentemente. E, certamente, não foi a primeira vez que Escolas de Samba ficaram devendo alguma coisa depois do carnaval. A Escola teve um ano para tentar resolver o problema e, com certeza, não conseguiu. No caso do Bate-Paus é irônico. A comunidade do Senhor dos Montes, segundo informações, doou 600 mil reais para a reforma da Igrejinha do bairro. Claro, religião não é igual a Escola de Samba, mas a dívida de uma agremiação carnavalesca não chega, certamente, a ser nem 5% dos recursos para uma reforma de imóvel. Mas, por outro lado, o Metralhas não confessou nenhuma dívida. Por que não desfila? Pelo que se ouviu, a decisão do Metralhas parece ter sido “por solidariedade” à São Geraldo e ao Bate-Paus. Solidariedade entre  rivais? Quando há uma disputa à vista? Estranho. Solidariedade entre Escolas de Samba diz  respeito a reivindicações comuns a elas. Se o Metralhas não tem empecilhos formais que o impeçam de desfilar, e a verba da prefeitura está à sua disposição qual a razão para não desfilar? Se acha a verba pouca, isto é muito antigo e, então, vai ser um problema para sempre, uma vez que a Prefeitura tem seus limites orçamentários e muitos problemas para resolver.

Nestes episódios todos, em que ficou em segundo plano a tradição das agremiações que não vão desfilar, e em terceiro plano um pouco do respeito que as agremiações devem aos são-joanenses que se dispõem a vê-los e aplaudi-los nos desfiles, circula também a informação de que as outras três Escolas de Samba que vão desfilar – Girassol, Vem Me Ver e Mocidade Independente do Bonfim – conseguiram, com seu trabalho e perseverança, outros patrocínios adicionais para fazer frente às despesas de preparação do seu enredo. Assim, estão, aparentemente, mais preparadas para serem vencedoras da disputa carnavalesca, o que tira, corre o boato, o espírito de competição de escolas que estão devendo ou não conseguiram patrocinadores adicionais. É o que se diz. Eu não penso assim, pelo contrário. Acho que o desfile carnavalesco tem sentido mais amplo: almejar a vitória é normal numa disputa, mas a presença na passarela é honrar a tradição da agremiação e do carnaval de rua de São João del-Rei. Espero que o público esteja presente com seus aplausos para as Escolas de Samba que vão desfilar.

Por Jota Dangelo

SÁBADO LUMINOSO

Para mim, neste sábado, dois eventos chamam atenção. O primeiro deles é a comemoração que o Centro Cultural Feminino vai fazer em comemoração aos 306 anos da elevação do Arraial Novo a Vila de São João del-Rei. Pretende-se um evento com apresentação da consagrada Banda Theodoro de Faria e textos referentes à cidade onde os sinos falam. Na verdade, o dia da comemoração desta data é 8 de dezembro, mas domingo não é exatamente o melhor momento para reuniões que podem se estender pela noite a dentro. O Centro Cultural Feminino recebe o apoio do Fundo Estadual de Cultura, da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais, para a manutenção do seu Espaço Cultural, fomento indispensável para que a entidade possa cumprir os seus objetivos estatutários.

O segundo acontecimento deste sábado tem contexto familiar: trata-se da comemoração dos oitenta anos do meu primo e companheiro de sempre Neudo Luiz Torga da Silva. Se eu tivesse que apontar o mais fervoroso admirador e incentivador da Escola de Samba Qualquer Nome Serve, de saudosa memória, não teria a menor dúvida: seria o Neudo, acompanhante permanente dos preparativos que envolviam a criação dos desfiles da QNS. Seus 80 anos vão ser comemorados com um almoço para familiares e amigos, merecida comemoração fraterna para um são-joanense da mais pura linhagem bairrista, como a minha.

E MOMO?

Entramos em dezembro e ainda não ouvimos nenhuma palavra oficial sobre os festejos de Momo de 2020. A história se repete: o poder público só se manifesta sobre o assunto em janeiro, quando estamos muito perto dos festejos carnavalescos. É claro que as entidades carnavalescas estão pensando há algum tempo no que vão fazer e até já decidiram, com certeza, os seus enredos. Já tem compositores criando seus sambas para a ocasião. Mas, sem a verba oficial, ninguém começa a fazer despesas e elas são muitas e cada vez maiores. Além das nossas festas religiosas, nosso Carnaval de Rua é um dos eventos turísticos mais importantes da cidade. Deveria, desde agosto, estar na cogitação do Executivo e do Legislativo de São João del-Rei.

HOMENAGEM VASCAÍNA

Aconteceu nesta semana uma raridade: fui obrigado a torcer pelo Vasco contra o Cruzeiro. Não por causa do Cruzeiro, mas simplesmente porque o meu Botafogo passou a depender da vitória do Vasco para não correr o risco de ir para a série B do Brasileirão. E o Vasco cumpriu o seu papel. Fui obrigado a levantar um brinde para o Vasco. Mas a bebida desceu com uma má vontade dos diabos…

Por Jota Dangelo

Santa Bárbara! São Jerônimo! Mas que papelão! O quê que vocês estão fazendo que não viram o aguaceiro transbordando rios, encharcando a terra, invadindo casas, destruindo tudo? Afinal, não são vocês dois os encarregados de controlar os raios e trovões? Como é que é? Estavam de férias? Parem com isto. Eu sei que vocês devem estar no bem bom, já que no céu não chove. O céu é mais acima, já que embaixo fica o inferno, é o que dizem. Mas vocês podiam ter feito alguma coisa. Ou melhor, ainda podem fazer alguma coisa, bolas! Vocês não têm medo de Deus cortar o ponto de vocês, não?

Vejam o que ocorre em São Paulo. E lá nem precisa tanta chuva. E eu disse São Paulo, heim! Com este nome de santo vocês não podiam deixar acontecer o que vem acontecendo por lá. E está se repetindo…Não pega bem para você, Santa Bárbara; nem para você, São Jerônimo (será com J ou G?).

E não foi falta de reza, não. Eu tenho invocado vocês todas as noites. Sei que não sou a pessoa mais indicada para pedir coisas aos Santos, tanto me pesam as imperfeições, mas conto com a misericórdia dos que são tocados pela santidade para relevar os meus defeitos e ouvir as minhas preces. E dizem que está só começando. Começando? Para mim já passou do limite. Eu não tenho humor para suportar temporal. Nem chuvisco, pô! Chega de chuva, gente! Chega de enchentes! Chega de frestas no asfalto! Chega de queda de barreiras, lama, deslizamentos de terra, prejuízos, desabrigados! Quero o sol, o velho sol, estalando de luz, acalorando tudo, fazendo descer o suor na testa, obrigando a busca de abrigos mais frescos. É verão, Santa Bárbara! É verão, São Jerônimo! Mesmo que ainda não seja, de fato, já estamos quase lá! Ponham-se a trabalhar, gente! Que nós, pobres mortais, estamos impotentes diante da fúria da natureza que resolveu, neste 2019, por uma investida líquida, fazer-se trombas d´água, invernadas de chuva fina intercaladas com tempestades onde não faltam granizos e ventos impetuosos.

Temos que apelar é para vocês dois mesmo! Pelo que sei, vocês são o casal encarregado de sustar raios, controlar trovões, dominar ventos e amansar tempestades. Não dá para mandar chover deste jeito lá no deserto do Saara, não? Lá tem areia pra dedéu, a água não empoça, não há possibilidade de enchente, e também não tem ninguém morando por aquelas bandas…

Conversem aí com o seu Chefe, pô! Ele sabe das coisas, foi ele quem criou este negócio todo, é o que se diz por aí. Com todo respeito, eu acho que vocês estão é de sacanagem com a gente…Sei que fazemos, nós, os terráqueos, muita coisa errada, mas não é preciso castigo tão violento. Dá um tempo! Menos, menos…

Por Jota Dangelo

Sempre tive uma certa curiosidade sobre a atividade das(os) videntes e cartomantes. Mais do que sua coragem de se atribuir dons de futurólogas e arriscar especulações hipotéticas sobre a vida privada de seus e suas clientes, que elas afirmam serem verdades irreversíveis, impressiona-me, sobretudo, a choldra que procura os donos e donas do futuro para resolver os seus problemas cotidianos.

E não são poucos os que acreditam, com fé absoluta, com convicção, que o lançar de búzios, o manejo habilidoso de cartas de Tarot, a simples leitura da palma das mãos predigam a grana que está por vir, o emprego generoso que está à espera deles dentro de alguns meses, a aparição para breve da esperada mulher, ou homem, de seus sonhos. Não acredito que as videntes urbanas, desde as ciganas nômades às madames enclausuradas em seus habitats cercados de cortinas e perfumados com incenso, tenham alguma vez vaticinado a miséria para seus clientes, ou o câncer galopante para o próximo ano, ou a separação conjugal iminente, ou a demissão do emprego nas semanas vindouras. Se uma cartomante anteveja nas cartas um destino desastrado para seu cliente, corrige de imediato a profecia: “Está prevista uma tragédia na sua família, mas dura muito pouco: a paz e a concórdia voltarão a reinar”.

A única coisa que videntes acertariam em relação ao futuro de seus clientes é afirmar que a morte os espreita, e mesmo assim sem determinar o tempo de sua chegada. Ora, disto todos sabemos, sem búzios, sem bolas de cristal, sem baralhos de qualquer espécie. E, aliás, a vida seria profundamente chata se pudéssemos saber o que nos vai acontecer. Se soubéssemos, ou faríamos tudo para apressar o futuro, se a predição fosse boa, ou nos esforçaríamos para que ele nunca chegasse, se o previsto fosse a desgraça. A emoção de viver está justamente em desconhecer o que virá amanhã, a expectativa de alterações, a mudança de rumos, a necessidade de enfrentar desafios que surgem, a possibilidade de sonhar permanentemente, enfrentar situações quando despontam, inesperadas, e saber conviver com elas ou contorná-las, ou sublimá-las, ou vencê-las com determinação, com trabalho, com confiança, com autoestima, com convicção e com a esperança em dias melhores.

Como a maioria das pessoas, tenho um certo preconceito em relação às cartomantes. Como não consigo acreditar em suas profecias, e muito menos em profetas – incluindo os bíblicos, os Nostradamus e outros do tipo – acabo acusando as cartomantes e as videntes de picaretagem, de “me-engana-que-eu-gosto”, de gente que faz profissão do fato de iludir a boa fé das pessoas. E isto, percebi, não é muito justo. Pelo menos não posso generalizar a minha má vontade com elas. Descobri que há cartomantes e videntes com alguma ética no exercício da profissão profética. No outro dia, no meu caminho de casa para um boteco dei com um cartaz afixado num poste, perto de um semáforo, com os seguintes dizeres:

MADAME ELZA

Rua Antenor Cartaxo 85 – Cachoeirinha

Somente das 20 às 23 horas

Hora marcada pelo telefone 99150-7652

TRAGO DE VOLTA A PESSOA AMADA!

PAGAMENTO SÓ DEPOIS DO RESULTADO

Diante disto estou pedindo desculpas às cartomantes e videntes éticas.

Por Jota Dangelo

ESPANTOSO

Fico pensando, às vezes: será que é tão difícil para um político, eleito pelo povo, cumprir as suas obrigações a favor do país e da população com ética, com lisura, com honestidade? Será que é tão difícil para os políticos deixarem de se engalfinhar em trocas de ofensas grosseiras, seja ocupando a tribuna do parlamento, seja rabiscando mensagens nas redes sociais? Será que é tão difícil para os políticos deixarem de agir prioritariamente no sentido de seus interesses pessoais, esquecendo por completo que foram eleitos como representantes de uma coletividade que neles depositou confiança e esperança de uma conduta digna, responsável, atenta aos problemas econômicos e sociais que abalam a Nação? Será tão difícil medir as palavras com as quais se expressam? Será tão difícil respeitar divergências de opiniões políticas, ideológicas, econômicas e sociais, sem revidar com linguagem rastaquera, adjetivação de esgoto, argumentação grotesca? É este o retrato do nosso parlamento hoje em dia: uma Casa que mais parece um bordel onde tudo é permitido publicamente, numa atmosfera onde faleceu o espírito cívico para dar lugar às altercações rasteiras e aos xingamentos de baixo calão. Triste, muito triste.

SR. PREFEITO; SENHORES VEREADORES:

Trata-se de uma frase famosa: “um povo que desconhece seu passado terá dificuldades para construir o seu futuro”. A história de uma cidade e de seu povo faz parte do conjunto de conhecimentos que inspiram os governantes e os cidadãos do presente a tomarem as medidas mais acertadas em direção aos tempos que virão. Museus cumprem parte desta função: dão vida aos fatos e às coisas que foram fundamentais na existência e nas realizações de nossos antecedentes de outros tempos. Temos o Museu Regional, temos o Museu de Arte Sacra, temos um Museu da Cidade, temos agora um Museu dos Sinos, único no Brasil, todos eles cumprindo sua nobre função. Mas falta um museu fundamental, particularmente em São João del-Rei: um Museu da Imagem e do Som.

Trata-se de uma coletânea de imagens históricas da cidade, e de entrevistas com personalidades de várias classes sociais que se distinguem por suas ações e por sua conduta em sua existência. Não falta material. Dezenas de cidadãos, são-joanenses ou não, possuem acervos fotográficos de altíssima qualidade e de todos os tempos guardados em seus baús particulares: tipo de material que deveria estar num Museu de Imagem e do Som. Mais do que fotos, a JP Produções, por exemplo, num esforço pessoal e meritório, produziu DVDs importantíssimos sobre o histórico de São João del-Rei, com vídeos e entrevistas sobre a cidade e seus eventos, suas curiosidades e suas personalidades. É um acervo básico para o Museu de Imagem e do Som, evidentemente com recompensas a que JP tem direito. E há outros cidadãos em del-Rei com DVDs produzidos que merecem estar neste Museu a ser criado. Um Museu que não exige muitos recursos para ser implantado, nem precisa de muito espaço para conservar o seu acervo.

Que tal pensar no assunto senhor Prefeito? Que tal participarem, senhores vereadores?