Pelas Esquinas: Velho Amigo
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Pelas Esquinas: Velho Amigo
Ultimamente, um dos meus passatempos preferido tem sido abrir as pastas de antigos arquivos guardados em fundo de gavetas. São coisas que guardei, nem sei bem por qual razão. Nesta semana, numa destas vistorias temporárias, dei com uma carta do amigo Herval Cruz, justamente aquela em que me comunicava a intenção de criar a Gazeta de São João del-Rei e me convidava para ser um colunista do semanário. Foi o bastante para meus olhos umedecerem. Junto da missiva de Herval havia um poema meu, escrito justamente no seu falecimento há tanto anos. Eis, abaixo, o registro daquele dia.
AMIGO MORTO
Ei-lo entre flores,
como convém a quem à terra se destina.
Pois se delas a terra foi o berço,
dele há ser agora.
Que a terra é o fim e foi começo.
Ei-lo imóvel,
como convém a quem se prostra de cansaço.
Que repousar é desatar-se da vida por um tempo,
e viajar lonjuras pelo espaço.
Ei-lo distante,
como convém a quem buscou só horizontes.
Que se afastar, em certos casos,
é ficar ainda mais presente:
não há rio que nasça sem a fonte.
Ei-lo inerte,
como convém a quem desistiu
do movimento.
Que o simples respirar,
para quem se cansou de tanta lida,
também pode ser um sofrimento.
Ei-lo feliz,
como convém a quem colheu
o trigo mais viçoso.
Que a vida é sempre uma colheita,
embora com safras que nem sempre
são do nosso feitio e nosso gozo.
Ei-lo perene.
Como convém a quem,
como a semente, frutifica.
Que morrer não é desaparecer eternamente:
alguma coisa da gente sempre fica.
Ei-lo tranquilo,
como convém a quem viveu em paz consigo.
E eis-me aqui, no seu jazigo,
sem saber se invejo o seu repouso
ou se derramo prantos pelo amigo.
Jota Dangelo
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