RETRATO DAS VERTENTES 1084
Redação on abril 30, 2022
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RETRATO DAS VERTENTES 1084
Por José Antônio Ávila
Historiador
306 ANOS DE SÃO JOÃO DEL-REI
Foi no “anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil setecentos e treze annos, ao oito dias do mez de dezembro do dito anno neste Arraial do Rio das Mortes, onde veio por ordem de Sua Magestade, que Deus Guarde, Dom Braz Balthazar da Silveira mestre de campo general dos exércitos, governador e Cappitão General da Cidade de São Paulo, e Minas, para effeito de Levantar Villa o dito Arraial; e logo em virtude da dita Ordem, que ao pé deste Auto vai registrada, o criou em Villa com todas as solemnidades necessárias, levantando o Pelourinho no lugar, que escolheu para a dita Villa a contento, e com a aprovação dos moradores della, a saber na Xapada do morro que fica da outra parte do córrego para a parte Nascente do dito Arraial, por ser o citio mais capaz e conveniente para se continuar a dita Villa, a qual elle dito Mestre de Campo General e capitão General appelidou com o nome de São João d’El-Rey…”. Assim, neste sábado que antecede os 306 anos da então vila de Antônio Garcia da Cunha, registro o meu preito de respeito e de gratidão para com a “terra onde os sinos falam” rogando para que dias sempre melhores amanheçam “na mui nobre e leal Villa de Dom João V, uma das que iniciaram, desenvolveram e ampliaram as várias faces da civilização do ouro, dos tempos da ênfase barroca, revolucionária às vezes e que educou o Brasil para a sua independência tão espetacular quanto renascentista, obra de príncipe esclarecido, não de ‘condottieri’ ou caudilhos…”, conforme palavras do pensador José de Alencar Ávila Carvalho (1925-2000). Desejo que a cidade não fique “paralítica no sol espiando a sombra dos emboabas no encantamento das alfaias” como escreveu Carlos Drummond de Andrade. Por fim, suplico para que estejamos atentos aos apelos de Antônio Gaio Sobrinho contidos no livro “No jardim da ilusão”, publicado há 25 anos: “São João del-Rei, terra minha amada, quanto tesouro no escrínio do teu passado, quanta jóia no diadema de teus dias, quanta glória nas páginas de tua história! Que imensa riqueza de tradições nas festas de tuas igrejas, com suas irmandades e procissões! Que mundo deslumbrante de arte nas tuas corporações musicais, com suas bandas e orquestras! Que gostosas fantasias no “contam que” de tuas lendas, com seu “Bairro do Segredo” e seu “Cristo do Monte Alverne”! Que infinita cultura na longa série de tuas escolas com sua “Aula Régia” de ontem a sua “Funrei” de hoje, tão prenhe de promessas e futuro! Mas cuida-te, São João del-Rei! Abre bem os teus olhos, presta sentido e esconjura os vândalos que te querem apagada da lembrança, que te desejam órfã de tradições, que te pretendem maculada de beleza, que te reclamam prostituída de identidade. Atenta-te, São João del-Rei, para que não venhas chorar amanhã sobre quaisquer relíquias de ontem as lágrimas que hoje choras, com saudade, sobre a Ponte da Misericórdia ou o Chafariz dos Arcos, sobre a Fonte Luminosa ou o Café Rio de Janeiro, sobre o Pavilhão de Matosinhos ou sua igreja do Senhor Bom Jesus, sobre o Teatro Artur Azevedo ou o Casarão de Chagas Dória, que inda há pouco te roubaram. No antemanhã de teu tricentésimo aniversário… Acorda-te, “Briosa e Fiel” cidade e faze-te presente no lugar que é teu por destinação histórica e sê dele eterno apanágio! Engalana-te, “Formosa Odalisca” e preserva, na faceirice de teus encantos, a doçura de tua paisagem, e sê dela ciumenta guardiã! Levanta-te, “Princesa do Oeste”, e revê no dourado do teu pôr-de-sol os trezentos anos de passada história, e sê digna de sua grandeza! Ilumina-te, “Cidade Luz”, e antevê no rosiclear de tuas madrugadas a aurora de mais um século de futuras conquistas, e sê delas merecedora! Refulge-te, “Atenas de Minas”, e vê no zênite deste dia a radiosa promessa de tua juventude estudantil, e sê receptiva da homenagem que ela te agora te tributa nas palmas que oferece! Viva São João del-Rei!…”.
Gazeta de São João del-Rei
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