RETRATO DAS VERTENTES 1092
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abril 30, 2022
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RETRATOS DAS VERTENTES 1091
14/03/2020
RETRATO DAS VERTENTES 1092
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Sineiros da Igreja de São Francisco de Assis – Foto: Acervo Pessoal
Por José Antônio Ávila
Historiador
POR QUEM OS SINOS DOBRAM?
Machado de Assis registrou que “os sinos têm uma música própria: o repique ou o dobre, a música que no meio do tumulto da vida nos traz a idéia de alguma coisa superior à materialidade de todos os dias, que nos entristece, se é de finados, que nos alegra, se é festa, ou que simplesmente nos chama com um som especial, compassado, sabido de todos.”. Em São João del-Rei a tradição é a de que “os sinos falam” e, há pelo menos três séculos, através de avisos sonoros, eles convocam o povo para atividades litúrgicas, festivas ou não, bem como avisam a população sobre sinistros. A história dos sinos já foi registrada como manifestação do nosso Patrimônio Cultural Imaterial (Intangível), pelo IPHAN, e tornou-se uma das marcas mais tradicionais da paisagem sonora desta urbe, tendo impressionado a diversos visitantes, a exemplo do naturalista inglês Richard Burton e do jornalista e escritor carioca Carlos de Laet. O primeiro registrou que “em São João del-Rei, ouvimos o toque de sinos de Oxford: durante todo o dia e metade da noite, escutava-se o “dobre”, toque vagaroso, quando é usada a corda, e o “repique”, toque ligeiro, em que o badalo é manejado com a mão. Era uma “fornalha de música”, uma “sinfonia de tempestade…”; o segundo afirmou que “dos sinos de São João não se poderá dizer que como em outras cidades estão emudecidos pelo progresso dos tempos. Soam a miúdo e talvez mais frequentes que de razão. Todo membro de qualquer irmandade confraria ou ordem terceira tem, quando morre, inconcusso direito a dobres funéreos, que mais crebros se tornam se o defunto exerceu cargo ou dignidade. Ora, como, em geral, o são-joanense faz parte de diversas corporações religiosas, raro é o óbito que durante o dia inteiro não faça gemer o bronze de muitos campanários…”. Nesta cidade, se o sino toca em hora inadequada as pessoas logo procuram saber o que está acontecendo; agem da mesma forma se o sino não toca quando deveria. Vivemos uma espécie de cosmogênese do barroco; presos nos campanários das igrejas, os sinos evocam o que está entre o céu e a terra, funcionam como elos entre o terreno e o transcendental; as torres, como portas do céu, é por onde se passa das trevas à luz, e as vozes dos sinos são como chamados a Deus como bem parece saber os sineiros que descansam sobre a torre da igreja franciscana (foto s.d. e s.a., copiada do acervo de José Augusto Moreira, “in memoriam”). Costumamos gravar no bronze dos sinos dísticos em latim tais como “Laudo Deum, Populo Voco, Pestem Fugo” (“louvo a Deus, chamo o povo, afugento a peste”) e num dos sinos da igreja franciscana, por exemplo, há a inscrição “Franciscus Vocor, Vivos clamore, mortuos plango, Mea vocis clamore nubes pluanti, corruat falsitas”, ou seja: “Chamo-me Francisco. Convoco os vivos, congrego o clero, choro os mortos. Ao soar da minha voz, desfaçam-se as nuvens em chuva e destrua-se toda a falsidade”. Assim, neste mês de março do ano da graça de 2020, a exemplo do que pode até ter acontecido no flagelo que passou à história com o nome de “Gripe Espanhola”, há mais de um século, no ano de 1918, os sinos de igrejas da Diocese de São João del-Rei, por sugestão do bispo dom José Eudes Campos do Nascimento e do vigário geral padre Geraldo Magela da Silva, estão vibrando às 12, 15 e 18 horas e estão convocando o povo de Deus – homens, mulheres e crianças de boa vontade – para elevar suas preces clamando a Ele pelo fim da triste pandemia do Covid-19…
Gazeta de São João del-Rei
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